Poemas : 

Janelas

 
O falso brilho das promessas é o perfeito retrato do que é ilusão
Nossos sentidos se lançam a acreditar que tudo será como dito
Os corredores e cômodos silenciosos e vazios são a prova disso
A janela aberta da casa, ao vento, imita asas, mas não há o voar
E o que restou para sonhar do desejo de viver novos horizontes
É cais varrido pelo aferro das águas de tantas e tantas partidas

O sol inclemente cresta o chão à margem do rio de fato distante
Mas não há o porto a ancorar nestes tempos tão ermos e áridos
Olhar afora dos batentes da janela pode trazer uma ideia fugaz
Um pensamento, por certo irreal, de que haver-se-ia a liberdade
De se lançar noutro voo às cegas e afastar o que não contenta
Na quimera de que o horizonte tão ansiado poderia ser logo ali

Mas é tudo tão remoto e já não se sente a textura das estações
E não há o conhecimento que te dê à mente os milhões de asas
Que são hábeis a reafirmar que o amor existe e é quanto basta
Nem a esperança que insiste ficar pela crença que deve resistir
Tal esperança nada mais é além de um tecido puído pelo tempo
Estendido no caminho de tanto tropeço nas dores da revelação

A vida cobre-se de equações mal resolvidas, de flores efêmeras
A vida é uma primavera de pétalas caídas, de adeuses precoces
Por isso sigo em meu desterro, sem sorrisos, atrás desta muralha
Mas aguardo o milagre que um som de violino trazido pelo vento
dissolva o silêncio e permita que a minha mão toque a tua e que
À sombra dos girassóis nos mostre o caminho de volta ao amanhã


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
Texto
Data
Leituras
706
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
19 pontos
15
2
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 01/12/2020 16:20  Atualizado: 01/12/2020 16:20
Colaborador
Usuário desde: 23/06/2011
Localidade: Taubaté SP
Mensagens: 10200
 Re: Janelas
Boa tarde Mr.Sergius, a vida humana é uma sucessão de emboscadas a serem apaziguadas, parabéns pelo vosso instigante poema, um abraço, MJ.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 01/12/2020 19:00  Atualizado: 01/12/2020 19:00
 Re: Janelas
querias dizer equações ou razões? não concordo com a mão que quer tocar por uma simples verdade, e exemplifico... queres tocar uma mão carente de calor humano, alguém sofredor de carência afetiva para quê? para a foderes? eu sei que não. mas pensa. escreves um bocado mal mas estás no bom caminho para ser melhor, lapida, lima... e dá-me música. se é que a tens
um abraço
she she





Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 02/12/2020 18:28  Atualizado: 02/12/2020 18:28
 Re: Janelas
Categóricas palavras, num poema afirmativo, e coerente.

Abrindo a janela da vida, na plenitude de cada coisa, ainda que pareça pequena, vivendo com a espontaneidade e debruçando-se na janela, olhando a vida passar através dela...ultrapassando as equações mal resolvidas e o desterro ali à frente.
Mas com garra e firmeza o milagre aparecerá.
Desenhe um horizonte além da sua janela, com várias cores e...faça florescer todos os campos indo além, muito além....no brilho do sol!
Viva a vida.

Meus cumprimentos e um abraço, poeta Mr. Sergius


Enviado por Tópico
nereida
Publicado: 02/12/2020 19:56  Atualizado: 02/12/2020 19:56
Membro de honra
Usuário desde: 27/08/2017
Localidade: São Paulo
Mensagens: 2285
 Re: Janelas
Oi Sergius, tens um texto triste e muito desiludido.
Gostei da leitura!
abraço fraterno.


Enviado por Tópico
Odairjsilva
Publicado: 03/12/2020 20:05  Atualizado: 03/12/2020 20:05
Membro de honra
Usuário desde: 18/06/2010
Localidade: Cáceres, MT
Mensagens: 5042
 Re: Janelas
Rapaz! Que maravilha de texto! Gostei muito.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 04/12/2020 16:51  Atualizado: 19/12/2020 21:00
 bem hajas
bem hajas