Entrelinhas
Data 01/12/2020 14:20:49 | Tópico: Poemas
| Ler nas entrelinhas é permanecer triste. Se as palavras não falam de nós. E as intenções. Não nos brindam champanhes, flutes, morangos e chantilys. Não nos dizem canções declamadas. Nem poemas desenhados. Nem sorrisos oferecidos. Não nos insinuam bandeiras de paz ou sóis de fim de verão. Não nos oferecem sonhos, lugares sentados, velas e ondas. Horizontes. Nem aguarelas dos tempos livres. Nem luas, campos, rosas e auroras. Peixes conversadores e vermelhos. Nem carnavais. Nem flores de frangipani. Ler nas entrelinhas é permanecer triste. Um segundo. Vou observar as laranjeiras. Perfiladas. Viçosas. Leio-lhes a vontade. De me devolverem à terra. Ao muro onde tomo assento. Às laranjas do meu quintal. As laranjas dos morcegos. Percebo que leio a minha terra. Mais do que leio pessoas. Que não me transparecem como na terra do além mar. Gozo o prazer antecipado de oferecer as frutas do meu quintal, como beijos. De mel. E nas entrelinhas, dos espaços por ocupar, percebo que não sei ficar triste.
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