
O poeta confinado
Data 27/01/2021 18:14:31 | Tópico: Poemas
| Observo o brilho mágico dos carros a cruzar a cidade Vejo que cada um carrega vidas, cada qual na sua dor Com seus buquês de escolhas, sua cabeça, suas febres Percebo que outras pessoas observam os movimentos Meu olhar logo os imagina como gárgulas nos telhados Cada um com seu olhar diluindo-se conforme afastam Vejo olhares de quem não perdoa a culpa de estar vivo Olhares de empoleirados felizes perdidos na imensidão A sombra do outono deixaria essas cores mais maduras O outono tem um gosto qual fosse dos esquecimentos Mas estamos no verão e no calor é mais difícil respirar Não há nuvens no céu e toda a dor salta para os olhos Uma tristeza nua que habita a solidão dos transeuntes À tarde virão as chuvas, sempre desmedidas, a inundar Nada é sob medida e os carros seguem deslizando a rua Porque tantas perguntas intermináveis sobre essa vida Frágil que insiste morrer, não há paz, nem há respostas Onde estará o espanto simples das descobertas infantis A noite virá e os carros pouco a pouco vão se recolher Fecho a janela, vou dormir e a vida segue imensa lá fora
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