Poemas : 

O poeta confinado

 
Observo o brilho mágico dos carros a cruzar a cidade
Vejo que cada um carrega vidas, cada qual na sua dor
Com seus buquês de escolhas, sua cabeça, suas febres
Percebo que outras pessoas observam os movimentos
Meu olhar logo os imagina como gárgulas nos telhados
Cada um com seu olhar diluindo-se conforme afastam
Vejo olhares de quem não perdoa a culpa de estar vivo
Olhares de empoleirados felizes perdidos na imensidão
A sombra do outono deixaria essas cores mais maduras
O outono tem um gosto qual fosse dos esquecimentos
Mas estamos no verão e no calor é mais difícil respirar
Não há nuvens no céu e toda a dor salta para os olhos
Uma tristeza nua que habita a solidão dos transeuntes
À tarde virão as chuvas, sempre desmedidas, a inundar
Nada é sob medida e os carros seguem deslizando a rua
Porque tantas perguntas intermináveis sobre essa vida
Frágil que insiste morrer, não há paz, nem há respostas
Onde estará o espanto simples das descobertas infantis
A noite virá e os carros pouco a pouco vão se recolher
Fecho a janela, vou dormir e a vida segue imensa lá fora



"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
Texto
Data
Leituras
598
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
6 pontos
4
1
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 27/01/2021 20:59  Atualizado: 27/01/2021 20:59
 Re: O poeta confinado
às vezes também vejo tanta coisa. muitas vezes vejo automóveis carregarem en vidas cheias de mortos. muitas vezes faz-me confusão a felicidade das crianças enterradas na areia descobrindo pulgas do mar com os seus brinquedos chico. tantas vezes vejo umbigos pendurados no ralo do aguador distribuindo facas. às vezes tenho saudade da ternura, da lucidez, da candura e transparência da luz latente. quanta vez me sinto cheio do mundo, das máscaras privilegiando a defesa, e o medo de voar. precisava tanto de enlouquecer e delirar, de amor.

pardon... uma boa noite


Enviado por Tópico
Legan
Publicado: 28/01/2021 13:15  Atualizado: 28/01/2021 13:15
Colaborador
Usuário desde: 26/01/2010
Localidade: Algures em Trás-os-Montes
Mensagens: 788
 Re: O poeta confinado
Ver as pessoas a passar e pensar como serão as suas vidas, o porque estão felizes ou tristes...

Muito bom

Abraço