Sou minha própria imagem,
Data 18/08/2021 15:14:32 | Tópico: Poemas
|
Sou a própria passagem do metro, O mestre do desapreço, a estação final É o que escrevo, de mim pra mim, De modo a parecer louco, sendo-o
Não me limito, nivelo-me pelos outros, Mesmo os mais baixos, matreiros, ocos Manhosos e velhacos são os mais sãos, Eu sou a minha própria passagem, o local
Do metro, o desmérito, a paragem do desprazer, O despudor com que observo a gare, O Oriente, o cais da "não pertença", O Oligarca dos feios, o ruim o torpe,
Desonra é o meu nome do meio, Feito minha, à própria imagem, personifico Um cego no que creio, e receio ser, Ouço-me e uso falando, a língua deles,
Apenas às vezes, sem sossego cont'o tempo, As estações de metro, os rostos leais desses Com que me cruzo, o mérito próximo, A longa linhagem dos uniformes longos,
Os Deuses do absoluto são brandos, Brancos quanto a cal das paredes, Nas estações do metro, no subúrbio Suburbano, que há muitos, tenho ideia
O que eu penso não é um rio qualquer Que se atravesse a nado ou que os homens Possam usar para pousar os olhos, lavá-los, Eu uso das fontes vivas, o que aconteceu,
Acontece nos nós dos dedos, que vão desaguar Nem eu sei aonde ou quando, dos atritos Nas pedras, dos redemoinhos, dos socalcos Nas águas, da turbulência dos ribeiros,
Nos cascalhos do caudal é que me prendo, I'preso eu me penso não um rio, um mar Imenso, desses onde se pode embarcar Pra outro universo vivo, esse onde anoiteci
Eu precoce, inúmeros apeadeiros e o metro Prolongando-se no meu subconsciente Deslocando-se ao ritmo das coisas tais As que o são não tão reais, aparenta ser
Doutrem a viagem dentro de mim próprio, Conquanto sou a própria imagem, Continuo sendo um outro, mais leve Que eu mesmo, esse outro.
Jorge Santos (24 Fevereiro 2021)
https://namastibet.wordpress.com http://namastibetpoems.blogspot.com
|
|