Dia após dia

Data 23/10/2021 01:56:08 | Tópico: Poemas

Uma taça de vinho, um solo do violino e a noite avança inquieta
É madrugada, ruas vazias inebriadas e uma pobre luz compassiva
Mal vai iluminar aos precários transeuntes em seu andar trêmulo
Olho os passantes pela janela tal qual invulgar cinema doméstico
Ouço o barulho de um resto de chuva que goteja como lamento
Sei que há tanto a observar em momentos sem grandeza heroica
Imagino-me estar preso ao longo braço d’um inescapável destino
Seria, então, esse silêncio inexpugnável, uma sólida sina cósmica
Ou será um fato corriqueiro do sorriso não coincidir nossa hora
Dia após dia, mais admito que essa dor obedece a leis ancestrais
Os dias amanhecem cansados e a rosa ao mar já não volta à areia
O que viria a nos aproximar transformou-se num muro entre nós
As estradas, antes luminosas e febris, estão vazias e vão ao vazio
Quero crer que esta angústia partirá a seguir as nuvens que vão
Para que se salve este vinho, pois não é hora de voltar ou morrer





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