Uma taça de vinho, um solo do violino e a noite avança inquieta É madrugada, ruas vazias inebriadas e uma pobre luz compassiva Mal vai iluminar aos precários transeuntes em seu andar trêmulo Olho os passantes pela janela tal qual invulgar cinema doméstico Ouço o barulho de um resto de chuva que goteja como lamento Sei que há tanto a observar em momentos sem grandeza heroica Imagino-me estar preso ao longo braço d’um inescapável destino Seria, então, esse silêncio inexpugnável, uma sólida sina cósmica Ou será um fato corriqueiro do sorriso não coincidir nossa hora Dia após dia, mais admito que essa dor obedece a leis ancestrais Os dias amanhecem cansados e a rosa ao mar já não volta à areia O que viria a nos aproximar transformou-se num muro entre nós As estradas, antes luminosas e febris, estão vazias e vão ao vazio Quero crer que esta angústia partirá a seguir as nuvens que vão Para que se salve este vinho, pois não é hora de voltar ou morrer
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