vácuo: uma história de amor

Data 10/01/2022 19:57:15 | Tópico: Poemas

hoje apago a poesia

antes já tinha desaparecido
com o dia e a noite
com o firmamento e
as águas
com todos os seres e
com a mão que me ofereceu
a primeira bofetada

é este o momento de admitir que
desesperadamente cri
eis o princípio da infância
o princípio do pecado

porque houve um tempo em que
as palavras chegavam
fogo pelas várzeas
enquanto eu hesitava entre
o sopro e o cuspo

a balbuciar
qual a melhor altura
para começar a sofrer

eu que sempre escrevi dentro
de quem usa chuço na morrinha
com o cinto sobre a camisa
uma criança
com medo da pica

fui o crime
de um cabo elétrico
traçado
que tem em si
absurdamente o amor
a dor e a inútil
idade

assim a estrofe que me resta
recua
letra a letra
para o vazio

já falta apagar pouco
descanse o
"pregador das verdades dele"

falta o silêncio

o silêncio

a rainha triste
despida em musa coxa
apalpada por versinhos
de pé quebrado

onde estás
onde estás que amanhã serás minha?



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=361030