Ah, como desejei viver dias de palavras sem aflições De uma ternura explícita longe de garras cotidianas Caminhar descalço de receios ao som dos cascalhos Festejar distraído sob o céu no calor que vem do sol Mas vi que à alma é ilusório desnudar-se sem castigo E mais que eu o queira, acreditar num sim imaculado Sei que a rabugem das gentes tem seus olhos em mim
Queria gozar um sopro de mística da brisa vespertina Repousar, só a admirar as estridências das farândolas Recitar uma prece fora do dogma e da acústica da fé Atravessar campos descompromissado da ideia alheia Cantar acalantos ardentes como só se faz em sonhos Tocar minha guitarra até que ouçam meus fantasmas Que são tão mudos, quão impertinentes e impontuais
Queria não temer pesar a terra ao som das trombetas Levantar qualquer máscara que haja restado em mim Florescer as palavras que já as tenha impronunciadas Ver a beleza da vida além do rigor que impõe a retina Despertar com a alvorada, sem ter medo da memória Queria olvidar o silvo da serpente oculta entre flores Queria desfrutar ao teu lado a cor que resta em mim
Lamento amigos ausentes, uma perda para todo o mundo dos poemas.
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