Poemas : 

Mística

 
Ah, como desejei viver dias de palavras sem aflições
De uma ternura explícita longe de garras cotidianas
Caminhar descalço de receios ao som dos cascalhos
Festejar distraído sob o céu no calor que vem do sol
Mas vi que à alma é ilusório desnudar-se sem castigo
E mais que eu o queira, acreditar num sim imaculado
Sei que a rabugem das gentes tem seus olhos em mim

Queria gozar um sopro de mística da brisa vespertina
Repousar, só a admirar as estridências das farândolas
Recitar uma prece fora do dogma e da acústica da fé
Atravessar campos descompromissado da ideia alheia
Cantar acalantos ardentes como só se faz em sonhos
Tocar minha guitarra até que ouçam meus fantasmas
Que são tão mudos, quão impertinentes e impontuais

Queria não temer pesar a terra ao som das trombetas
Levantar qualquer máscara que haja restado em mim
Florescer as palavras que já as tenha impronunciadas
Ver a beleza da vida além do rigor que impõe a retina
Despertar com a alvorada, sem ter medo da memória
Queria olvidar o silvo da serpente oculta entre flores
Queria desfrutar ao teu lado a cor que resta em mim


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


Lamento amigos ausentes, uma perda para todo o mundo dos poemas.
 
Autor
Sergius Dizioli
 
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