E esta existência faminta pelo respirar

Data 06/12/2022 22:06:42 | Tópico: Poemas

Como todos os inícios a vida rasga os dias, a incitar no tempo o desejo ardente das emoções, dentro das vontades que correm como a água cristalina numa torrente de alegria.

E esta existência faminta pelo respirar, neste ar insuflado aos pulmões, é como a brisa que aquieta e sossega, num ritmo suave a fazer renascer, como renascem as manhãs que se abrem tão leves e lúcidas no caminhar descalço dos meus pés.

Sinto o hálito quente da manhã a bafejar no movimento do vento o perfume das flores, sacudindo com ímpeto as copas das árvores, como se essa exatidão tivesse a importância da vida, assim, a deixar lentamente os lugares apertados, a reparar nos simples detalhes, como se na contemplação os apertos fossem deixados para trás.

São tão silenciosos os momentos apertados, como se o tempo em reconstrução dependesse apenas da coragem que se ergue na força sucinta dos passos.

E já não há pensamentos disformes, é como se o caminho fosse vestido do que é palpável dentro de tudo o que tem que ser e não houvesse mais espaço para a superficialidade.

Solto a voz que me abraça e olho-a, como se me envolvesse no mais profundo de mim e enraízo-me, como se no movimento de me aprofundar, sentisse o encaixe do molde das minhas mãos adaptar-se ao caminho, dentro dos meus passos.

Alice Vaz de Barros


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