XXV - O ingenuoso cavaleiro Dom Quixote da Mancha
Data 28/02/2023 18:42:54 | Tópico: Poemas
| XXV - Vigésimo quinto episódio que trata, de maneira tão sucinta quanto divertida, de tudo que o leitor ficará sabendo ao ocupar-se com este prazeroso texto.
Sancho Pança reagiu com alguma estranheza quando viu que o patrão não chamou de fortaleza o albergue mais modesto lá daquela redondeza
Quixote estava ansioso por fazer ali paragem O homem que conhecera no trajeto da viagem tinha dito que estaria nesta mesma estalagem
E depois que o ajudou a tratar do seu jumento foi acomodando todos cada um em um assento pra ouvirem sua história naquele mesmo momento
Concordando em fazer o que tinha combinado o homem foi expedito e não se fez de rogado Contou o caso do zurro conforme o solicitado
- Nesta minha narrativa uma coisa que se nota é ver a divulgação duma simples anedota fazer uma vila inteira ser motivo de chacota
- Na vila de onde venho um jegue tinha sumido Se por ter sido roubado ou quem sabe até fugido nem mesmo o dono sabia procurando constrangido
- Os detalhes eu não dou pra encurtar a história mas a aflição do dono era pública e notória percorrendo toda a vila na sua busca inglória
- Apareceu um compadre dizendo tê-lo avistado já fazia uma semana dentro do mato fechado sem albarda nem arreio parecendo esturricado:
- Tentei me aproximar mas quando me enxergou como estava já arisco o jumento se assustou e sem olhar para trás no horto se embrenhou
- Se formos juntos pegar será de melhor proveito pois ajudar o compadre só me deixa satisfeito! - Pra achar o meu jerico toda ajuda eu aceito!
- Eles foram para o mato com um plano ajustado Separando-se no bosque cada um foi para um lado aumentando suas chances de ter um bom resultado
- Porém o tempo correu e não viram o jumento Então o outro ficou matutando um momento e uma nova estratégia formulou no pensamento:
- Andando no matagal imitando um zurrado se o burrico estiver aqui no mato fechado escutando a um de nós poderá ser encontrado!
- Elogiando o compadre por ter tido o lampejo pra poder achar o asno como era o seu desejo o dono ficou ditoso com o plano do ornejo:
- Imitação de onagro eu também posso fazer Se o jegue nos ouvir e quiser nos responder onde está o meu jerico assim nós vamos saber
- E se puseram os dois pela trilha ornejando Separados um do outro novamente procurando Mas no mato, sem saber, foram se aproximando
- E diante um arbusto o dono do tal lopeu um ornejado ruidoso escutou e respondeu pensando ser o seu asno mas era o compadre seu
- Ficando desapontados de não verem um jumento se juntaram outra vez no maior constrangimento O compadre da folhagem disse naquele momento:
- É pra poucos conseguir zurrar assim desse jeito e por nunca ter ouvido um zurrado tão perfeito acho até que o compadre outra coisa não tem feito!
- E vendo no horizonte o sol já numa descida decidiram que a busca tinha sido concluída com o dono do jerico comentando em seguida:
- Pois agora que escutei o seu zurrado comprido fiquei com a impressão por ser muito parecido que meu compadre orneja desde quando foi nascido!
- E foram numa taberna pra beber e conversar com o compadre pensando que seu querido muar seria muito custoso de novamente encontrar
- E já estando os dois na taberna proseando um padre em seu bardoto lá no pátio foi chegando O mulo ao ser amarrado por veneta foi zurrando
- Por ser aquela taberna lindeira ao mato fechado os compadres calcularam que o asno tinha voltado O queixoso do sumiço disse muito animado:
- Não queria incomodar com mais um engano meu mas percebo que lá fora desta vez tem um lopeu pois escuto um zurrado e sei que não é o seu!
- E como continuasse o burrico a ornejar decidiram ir ao pátio pra poderem confirmar Antes o outro compadre não deixou de comentar:
- Agora que ele ornejou alto igual a um esturro já podemos ter certeza que isto foi mesmo zurro mesmo achando seu ornejo melhor que o desse burro!
- Ali ficaram sabendo conversando com o cura que o compadre poderia encerrar sua procura que do animal de carga só restava a ossatura:
- Caçadores o acharam dentro do mato fechado O jumento tinha sido pelos lobos devorado Só contaram para nós no retorno ao povoado
- E com o fim da procura o roceiro agradeceu por toda ajuda na busca que o compadre lhe deu Mas a notícia do zurro nas cercanias correu...
- Pois na arte de mangar o povo é muito casmurro E não foi pela desdita de não acharem o burro mas o conto fez sucesso pela imitação do zurro
- Agora na redondeza somos alvo de motejo Se algum da nossa vila vai pra outro vilarejo pessoas passam por ele imitando um ornejo
- E ainda nem contei a outra história jocosa que também tinha jerico e também ficou famosa por um vigário fazendo uma trama engenhosa
- O cura é aquele mesmo que antes fora descrito chegando lá na taberna num burrico esquisito que depois de amarrado ornejou bastante aflito
- O jerico deste padre não era manso na sela só parando de zurrar se voltasse pra capela Era um recalcitrante no seu apego por ela
- Lá em nosso vilarejo aconteceu que um dia este padre interessou-se numa imagem de Maria cobiçada por um monge que igualmente a queria
- A imagem referida pela sua perfeição de todo povo da vila chamaria a atenção no altar ou no andor de alguma procissão
- Mas eu preciso dizer que ali perto do lugar onde o vigário estava pela santa a disputar amarrado numa faia tinha deixado o muar
- O jerico amarrado zurrou em certo momento Como ali ninguém sabia de quem era o jumento o cura viu no zurrado perfeito oportunamento
- Vamos amarrar a santa no lombo deste jumento e o levamos ao caminho entre capela e convento deixando que ele prossiga com este carregamento
- E quando ele quiser buscar a sua pastagem o prédio que ele fizer sua primeira paragem pela escolha do burro ficará com a imagem
Sendo aceita a idéia foi amarrada na sela a imagem de Maria e o asno levando ela ligeiramente voltou trotando a sua capela
E foi assim que o cura conseguiu o seu intento de não deixar que a santa fosse para o convento Só depois foi descoberto que era seu o jumento
- Isso é tudo que sei do padre e seu muar Esse conto do vigário contado em todo lugar virou na boca do povo um ditado popular...
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