Olhei pra o céu, Tentei retardar as tardes, Pra que as gulosas noites Não acordassem as trevas No coração dos homens, Homens que vestiam das sombrias noites Pra ludibriarem o vivo olho de Deus. Na tentativa tornar o irrial o real, No pensar dos homens, O céu cobriu-se de manto negro, Recuei no tempo e lembrei Quem fui nas curvas do tempo, Que o tempo me reservara Sem lembranças por lembrar Em cada tarde sonolenta, Que fechava olhos à noite E acordava sonhos profundos Que esqueci de sonhar Na leveza do sono Que nunca tive. E, enquanto as noites Encostavam as tardes ao mural, Encostava-me à bengala do tempo, Contando migalhas do tempo, Do tempo que me restava De tantas tardes falecidas, Depois de darem beijinhos Ao sol que ia dormir ao poente.
Adelino Gomes-nhaca
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