
Não há domigo em Kiev
Data 11/05/2023 20:22:25 | Tópico: Poemas
| Ontem vi poetas calados ensimesmados com suas mazelas Derramando, gota a gota fino vinho, cheio de resplendor Na busca de um gemido, o mais vicioso e o mais presente Emboscados na sua devoradora solidão e outros a chorar Em pânico, ouvem a voz de mortos que deixaram pra trás
O verso pobremente devoto, insensível à segunda pessoa Deixem-no gritar até que o velho sol termine seu passeio Qualquer poeta perjuro à única resposta que lhe caberia Que o fundo de sua dívida, faz núpcias com a imundície Pois, quando a noite cai, o silêncio lhe será qual herança
Por mal, apoiados num intolerável fuste, calam ao alheio Inundam-se entre tantos pecados, ainda que por omissão Da qual somos pródigos quando face ao mal nos calamos Posto que desobedecemos à caridade entre outras obras Que competiria a todo aquele que tomar da pena e papel
A luta pela paz, a peste da paz, é uma vigília interminável O caçador que há dentro de mim encontra-se na espreita Obedecendo a memória ancestral, ao espírito vivificante Combato os abutres quais nos queiram anquilosar a vida E tudo que impeça ver-nos à imagem e semelhança D’ele
A batalha cotidiana, nos inclui dos mais severos inimigos Antes de agonizar na cama, por nossos arrependimentos Impende elevar o tom quando a angústia do outro exala O odor das hienas, chacais e demônios a pedir a carniça Lobos cavando fossos para apanhar tudo o que neles cai
E se observar, mesmo distantes, impulsos de destruição O poeta não pode calar a voz face à desgraça da guerra
Dedicado àqueles que por ideologia fazem vista grossa à vidas perdidas de mães, crianças e idosos e calam por se sentirem seguros na posição que ocupam.
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