Poemas : 

Não há domigo em Kiev

 
 
Ontem vi poetas calados ensimesmados com suas mazelas
Derramando, gota a gota fino vinho, cheio de resplendor
Na busca de um gemido, o mais vicioso e o mais presente
Emboscados na sua devoradora solidão e outros a chorar
Em pânico, ouvem a voz de mortos que deixaram pra trás

O verso pobremente devoto, insensível à segunda pessoa
Deixem-no gritar até que o velho sol termine seu passeio
Qualquer poeta perjuro à única resposta que lhe caberia
Que o fundo de sua dívida, faz núpcias com a imundície
Pois, quando a noite cai, o silêncio lhe será qual herança

Por mal, apoiados num intolerável fuste, calam ao alheio
Inundam-se entre tantos pecados, ainda que por omissão
Da qual somos pródigos quando face ao mal nos calamos
Posto que desobedecemos à caridade entre outras obras
Que competiria a todo aquele que tomar da pena e papel

A luta pela paz, a peste da paz, é uma vigília interminável
O caçador que há dentro de mim encontra-se na espreita
Obedecendo a memória ancestral, ao espírito vivificante
Combato os abutres quais nos queiram anquilosar a vida
E tudo que impeça ver-nos à imagem e semelhança D’ele

A batalha cotidiana, nos inclui dos mais severos inimigos
Antes de agonizar na cama, por nossos arrependimentos
Impende elevar o tom quando a angústia do outro exala
O odor das hienas, chacais e demônios a pedir a carniça
Lobos cavando fossos para apanhar tudo o que neles cai

E se observar, mesmo distantes, impulsos de destruição
O poeta não pode calar a voz face à desgraça da guerra


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


Dedicado àqueles que por ideologia fazem vista grossa à vidas perdidas de mães, crianças e idosos e calam por se sentirem seguros na posição que ocupam.
 
Autor
Sergius Dizioli
 
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 11/05/2023 21:39  Atualizado: 10/06/2023 09:47
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 1943
 Re: Não há domigo em Kiev
paz é descanso


Em kiev não há domingo há anos,
nem todos os outros dias de feira,
o tempo a nada se abeira,
nem para ontem haverá planos.

Os lugares são para os insanos,
a morada só na algibeira;
abre, finda da mesma maneira.
Só espaço para contar danos.

É a Ilíada e seus aqueus,...
o mundo não se farta de morte,
é de Homens do diabo.

Tudo gente sem destino, nem deus
que de tão fraca, passa por forte.
ao fim e ao cabo.

Enviado por Tópico
Alpha
Publicado: 12/05/2023 12:44  Atualizado: 12/05/2023 12:44
Membro de honra
Usuário desde: 14/04/2015
Localidade:
Mensagens: 1911
 Re: Não há domigo em Kiev
Guerra malvada e maldita
Muito milhões dás a ganhar
Não importa como se fica
Nem dos que vão a enterrar!

Os falcões da guerra cada vez se multiplicam mais...


Enviado por Tópico
rosafogo
Publicado: 12/05/2023 15:13  Atualizado: 12/05/2023 15:13
Usuário desde: 28/07/2009
Localidade:
Mensagens: 10503
 Re: Não há domigo em Kiev
Exultante poema que emociona qualquer ser que sofra com as notícias que chegam da guerra, poema que é um grito contra a maldita guerra.

«Impende elevar o tom quando a angústia do outro exala», triste sorte a de quem padece tanto horror, era bom que se levantassem mais vozes, mas, meio mundo faz vista grossa
porque a solidariedade neles não existe, oxalá nunca lhes bata à porta, semelhante horror.

Grata pelo momento bom de leitura.
Um abraço