
Areia movediça
Data 04/09/2023 00:30:25 | Tópico: Poemas
| Há dias em que a solidão parece uma cidade inteira E sua arquitetura a companhia de estranhos signos Rostos mudos entre as árvores ou nas constelações Num reino de pedras e ossos, que não nos pertence Onde um amor é símbolo de teoremas indecifráveis Uma música orquestrada, composta em clave de fá É nesse cenário que busco por teus rastros ocultos Estranhos amantes, reunidos por um pacto secreto
O ar de sal do mar é a bruma que turva a paisagem E o sol adventício que raiou na fronteira do sonho Pisa as areias movediças da incerteza e do espanto O pó bate em minha face, as flores turvas e débeis Exibem no verde de sua raiz, o paradoxo cotidiano As flores cantam em meu delírio, metais preciosos Somos onda, pó brilhante, areia e mar enamorados E o coro da morte nos oferece o indesejado cálice
Protagonizo meu próprio drama, a plena liberdade A palavra arde na língua e é folha de veludo suave Esplêndida e atroz é um amor que, voraz, espreita Espirais secretas, memórias, o rumor d’uma fábula O rito do pêndulo que repete, instante a instante É o tempo a maior fábula, a ilusão em nosso sonho Somos hospedes do tempo ou os seus prisioneiros? De semente a árvore, somos os condenados do ser
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