Poemas : 

Areia movediça

 
Há dias em que a solidão parece uma cidade inteira
E sua arquitetura a companhia de estranhos signos
Rostos mudos entre as árvores ou nas constelações
Num reino de pedras e ossos, que não nos pertence
Onde um amor é símbolo de teoremas indecifráveis
Uma música orquestrada, composta em clave de fá
É nesse cenário que busco por teus rastros ocultos
Estranhos amantes, reunidos por um pacto secreto

O ar de sal do mar é a bruma que turva a paisagem
E o sol adventício que raiou na fronteira do sonho
Pisa as areias movediças da incerteza e do espanto
O pó bate em minha face, as flores turvas e débeis
Exibem no verde de sua raiz, o paradoxo cotidiano
As flores cantam em meu delírio, metais preciosos
Somos onda, pó brilhante, areia e mar enamorados
E o coro da morte nos oferece o indesejado cálice

Protagonizo meu próprio drama, a plena liberdade
A palavra arde na língua e é folha de veludo suave
Esplêndida e atroz é um amor que, voraz, espreita
Espirais secretas, memórias, o rumor d’uma fábula
O rito do pêndulo que repete, instante a instante
É o tempo a maior fábula, a ilusão em nosso sonho
Somos hospedes do tempo ou os seus prisioneiros?
De semente a árvore, somos os condenados do ser



"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
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Enviado por Tópico
ZeSilveiraDoBrasil
Publicado: 04/09/2023 14:13  Atualizado: 04/09/2023 14:13
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Usuário desde: 22/11/2018
Localidade: RIO - Brasil
Mensagens: 1924
 Re: Areia movediça
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"O ar de sal do mar é a bruma que turva a paisagem"

Eu que sei bastante de ares de sal e brumas turvas, compreendo bem o lamento do poema. Afirmo que; somos hóspedes e prisioneiros ao mesmo tempo em areia movediça.
Meu abraço caRIOca!