Brumas, feiticeiras brumas

Data 15/09/2023 13:40:48 | Tópico: Poemas



Se os meus olhos salgam nuvens
em dias que o sol não vem
mar de vida, são as chuvas
que do fundo dos meus versos
arrastam ventos e areias
grãos de morte que eu disperso
numa praia de ninguém.

Bruma ainda, e o dia faz-se
sempre à flor do oriente
onde, dizem, a luz nasce –
dorso d’águas, travessia
sedutoras luas cheias
iludindo a maresia
em véus de brisa inocente.

Deixem-me ser caravela
rasgo de voz, aventura
se por dentro sou procela
à pele sou descobrimento -
quem me impede que nas veias
traga gumes de aço e vento
que me ajudem na procura

doutros mares, doutras verdades
curvas fáceis, contornâncias
em crescente claridade
sopros de luz emergente
incendiando as ameias
da bruma que me faz frente...?
Que é a luz, senão distância?

Que é do mar, sem as sereias
e sem sal que o alimente?

(pP)


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