A Cidade de Papel
Data 21/11/2023 18:33:32 | Tópico: Poemas
| Na cidade de papel o céu ardia em chamas. Eram nuvens incendiárias com mais de mil megatons. Uma orquídea vicejou no asfalto E o que era semelhante ao vidro Simplesmente se evaporou .
Lembranças de antanho de algo que não se viveu. Reminiscências antigas de intrigas que não se previu.
Quando passou aquele cometa Algumas senhoras caíram de joelhos E pediram aos deuses, em suas orações, Que daquele trigo não fosse mais feito o pão.
E os cabelos do príncipe, Não o de Maquiavel, Nem o de Exupéry, Mas do Enola Gay, Lembraram à atmosfera do porvir do aloirado cogumelo que feriu aquele azul.
Quem se lembra da menina do diário nazista? Quem, além de mim, lamentou a morte de Bertold Brecht? Nenhum de Nós cantou a Marselhesa No aniversário de morte do corso Napoleão.
O homem de lã parecia ao rei nu. Em milésimos de segundos todas as crianças estavam mortas.
Os carros pararam na contramão. Os pássaros voaram até morrer. As mãos fizeram orações E no céu um novo sol foi impedido De nascer.
Não pude conter o meu grito de horror. Não pude sequer segurar com as mãos. Tentei sorrir, mas de tristeza eu chorei.
E o homem de lã apertou o botão. A cidade de papel se calcificou com as chamas E a única orquídea que brotou no asfalto morreu Negando ao futuro o legado da nossa miserável existência.
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