XLV - O ingenuoso cavaleiro Dom Quixote da Mancha
Data 31/12/2023 21:27:49 | Tópico: Épicos
| XLV - Quadragésimo quinto episódio que trata de como Sancho Pança começou a governar sua suposta ínsula e de outros assuntos tanto gatescos quanto chocalheiros
O leitor ficou sabendo no episódio passado que ao rude Sancho Pança um mandato foi passado mesmo ele sendo apenas camponês no seu passado
Sancho Pança sem saber pra ser feito de otário foi com uma comitiva pra ILHA DO BARATÁRIO que era só um vilarejo mas servia de cenário
Recebido pelo povo com surpresa e alegria o novo governador tomou posse nesse dia sem notar que o evento foi de burla e zombaria
O emissário do Duque explicou a Sancho Pança que o povo ali presente queria ter confiança na inteligência dele no tocante à governança
- O novo governador agora vai responder as perguntas variadas que o povo vai fazer Toda sua inteligência nós queremos conhecer
- E é como o comissário que agora eu pergunto a quem disse para nós que não lhe falta bestunto se vai conseguir nos dar resposta a qualquer assunto
Sancho Pança com seu tanto de modéstia e altivez forjadas pelo trabalho dos tempos de camponês dispensando protocolos respondeu por sua vez:
- Uma vez que estou aqui seja como o povo quer Vou fazer diante dele o melhor que eu puder Querer agradar a todos é brincar de malmequer
E a primeira pergunta foi feita por um sargento: - Falo qualquer idioma sou veloz que nem o vento Se minha voz é a sua responda neste momento
- Parece uma charada do tipo que o povo gosta e respondo todas elas se for esta a proposta mas para este sargento o ECO é minha resposta
Quando o povo escutou o que tinha respondido ali o governador foi por todos aplaudido porque a sua resposta fazia todo sentido
Veio a segunda pergunta e pelo mesmo sargento: - Quando fino sou veloz quando grosso meio lento Meu trabalho é queimar meu carrasco é o vento!
- Foi uma boa pergunta mas sei a resposta dela serve para iluminar tem muitas numa capela É feita de parafina e nós chamamos de VELA
E como o governador respondeu corretamente o sargento então ficou com a resposta contente Sancho Pança foi ali aplaudido novamente
Para seu conhecimento ser ainda comprovado Sancho Pança precisava não parar de ser testado Por uma linda donzela a ele foi perguntado
- Não tenho nenhuma casa mas tenho muitas cidades Não tenho gado nem hortas mas tenho muitas herdades Eu tenho mares sem água nas minhas propriedades
- Ela perguntou assim meio que de supetão mas eu não vou hesitar em responder a questão declarando para todos que MAPA é a solução
Como ele outra vez respondeu corretamente Sancho Pança estimulou todo povo ali presente a ficar embasbacado aplaudindo novamente
Foi ali que um velhinho para Sancho perguntou: - Estive em vários lugares e ninguém me escutou Quando dizem o meu nome ninguém mais tem o que sou
- O nome se não me engano começa com a letra "esse" Sempre que ele for dito de pronto desaparece A resposta é o SILÊNCIO que todo mundo conhece
Novamente mais aplausos Sancho Pança conquistou O emissário do Duque outra pessoa chamou e para o governador foi isto que perguntou:
- Eu posso me apresentar na forma de um canudo Por ele não passa a voz uma vez que eu sou mudo mas se você precisar eu vou lhe falar de tudo
- A resposta da questão quer saber se eu adivinho? Já conheço pois eu vi na casa de um vizinho Dom Quixote me mostrou certa vez um PERGAMINHO
Novamente mais aplausos Sancho Pança conquistou O emissário do Duque outra pessoa chamou e para o governador foi isto que perguntou:
- Não tenho boca, só dente, mas o meu dente não come, não mastiga e na mesa dá comida a quem tem fome Se você já descobriu me diga qual o meu nome
- Pra mim é fácil dizer o nome que você quer Em qualquer mesa está não é faca nem colher É GARFO e só pode ser usado como talher...
Novamente mais aplausos Sancho Pança conquistou O emissário do Duque outra pessoa chamou e para o governador foi isto que perguntou:
- Eu trabalho em toda casa percorrendo cada canto desde o piso até o teto Mesmo trabalhando tanto eu só descanso em pé recostada no meu canto
- Em assuntos de trabalho quem sabe tudo sou eu Quem morou em uma casa com certeza a conheceu O seu nome é VASSOURA Sancho Pança respondeu
Por um rapaz magricela a Sancho foi perguntado: - O que é que cai em pé mas sempre corre deitado? - É a CHUVA ou a GAROA pra deixar tudo molhado
Um barbeiro foi pedir para Sancho responder: - Quanto mais grande eu for menos você pode ver? - É a grande ESCURIDÃO que a tudo quer esconder
Por um careca barbudo a Sancho foi perguntado: - Passo no fogo e na neve sem ficar quente ou gelado? - A resposta é a SOMBRA com o seu corpo achatado
Um sujeito grandalhão foi perguntar ao baixinho: - Na minha casa pequena é onde moro sozinho Sancho Pança respondeu: - E você é um PINTINHO
Uma velha disse a Sancho: - Me responda sem vacilo Se você me repartir com certeza me aniquilo Sancho Pança respondeu: - É assim com o SIGILO
Ao novo governador foi perguntar um infante: - Em peso não tenho nada em tamanho sou gigante Sancho Pança respondeu: - A SOMBRA do elefante
Uma freira uma questão desta maneira formula: - Quanto mais você me perde tanto mais me acumula? Sancho Pança respondeu: - O SONO que nos regula
Uma moça nariguda quis a Sancho perguntar: - Eu fico indo e voltando mas não saio do lugar? Sancho Pança respondeu: - A PORTA quis ilustrar
Sancho acertava todas causando admiração Foi ali que apresentou-se da aldeia um tecelão pra testar o governante com uma nova questão
- Estamos vendo que Sancho não deu respostas erradas mas esta que vou fazer é das mais elaboradas estando em nível acima das que foram perguntadas
- Sei que pra cada questão uma resposta existe Estou querendo saber se o povo que me assiste depois da resposta dada vai ficar alegre ou triste
Ouvindo estas palavras todo povo ali presente por causa do desafio ficou ansiosamente querendo que a resposta fosse acertadamente
- Você em certo momento estando a me procurar vai se desfazer de mim sempre que me encontrar todavia não me achando é quando vai me guardar
Sancho Pança não queria cair numa esparrela mas ouvindo a pergunta pensou na resposta dela que não fugia dos temas da sua origem singela
- A coisa que se procura dá trabalho ao zarolho Tem mais de uma resposta mas de todas eu escolho aquela que lá em casa nós chamamos de PIOLHO
Fez sinal o tecelão que Sancho tinha acertado O novo governador estava agora aprovado Todo povo se alegrou com aquele resultado
Agora vamos deixar o sucesso do baixote na ilha do Baratário pra falar de D.Quixote e da chuva de felinos que caiu no seu cangote
Sabendo que o cavaleiro cantaria com certeza na janela uma balada o duque mais a duquesa uma brincadeira nova armaram com ligeireza
Quando ele resolveu abrir a sua janela e notou que havia gente no jardim diante dela foi pegando a viola que lhe dera a donzela
Vendo ele já estar sua viola afinando as pessoas do jardim foram se aproximando Com a voz já meio rouca ele foi cantarolando:
- Quero agora declarar a toda e qualquer donzela que eu sou de Dulcinéia pois nasci para ser dela É só ela a virtuosa, bem-nascida, doce e bela
- Só dedico à Dulcinéia todo o meu amor cortês Por ela monto o cavalo por ela visto o arnês Quem me dera se pudesse decantá-la pra vocês!
- E como a minha amada poderia ser descrita se já me faltam palavras para descrever a dita que não é Lady Godiva mas é muito mais bonita?
- Eu prefiro então dizer com toda minha franqueza que sem palavra nenhuma foi a própria natureza que compôs em Dulcinéia um poema de beleza...
Nisso foi jogado um saco na cabeça de Quixote A brincadeira sem graça fazia parte do trote que o duque e a duquesa inventaram pro velhote
Quando o saco se rasgou saíram diversos gatos amarrados em chocalhos e conforme alguns relatos era só mais uma burla pra diversão dos gaiatos
Um dos gatos se agarrou na cara de Dom Quixote Tinham gatos e chocalhos trepados no seu cangote Quem olhava começou a ter pena do velhote
Na barulheira confusa de chocalhos e miados o duque e a duquesa ficaram já assustados calculando que o trote teria maus resultados
Uma pausa na história eu fazer agora vou No episódio seguinte a minha versão eu dou de como foi que a burla com Quixote terminou
|
|