De Como Assassinar um Poema - Acto 109
Data 22/01/2024 21:02:49 | Tópico: Poemas
| Este texto pseudo poético subversivo é perigoso Escrito de palavras tiradas do antónimo da vida Foi antes censurado e condenado ao ponto final Muitos o mantiveram num vil cativeiro venenoso Encostado às paredes bolorentas de cor perdida Em chão húmido forrado a pedaços de pão e sal
O humano juiz e doutor de umas palavras fortes Sensível ao argumento da defesa chorou de riso Era áspera a convicção de proibir qualquer rima Os letrados que o aplaudiam só queriam mortes Tinta escorrida e uma mão castrante se preciso Dar volta ao texto e olhá-lo de baixo para cima
O leitor de pernas e olhos trocados lia-o atónito Tecia-lhe críticas no pasquim diário de domingo Como se fosse algum catedrático jornalista sério Um asno inteligente tal como o doutor incógnito Lá pela rua, verão, a chuva caía pingo por pingo E de quando em vez ia um soluçado impropério
Os carcereiros escroques lambiam-lhe uma letra Agrilhoaram à vontade de ser livro vã vergonha Deixando algumas páginas em branco sós e ocas Matando liberdades que o pobre texto ali soletra E lavando de lágrimas um verbo que se impunha Nas mãos secas de juízes e outras gentes loucas
|
|