Poemas : 

De Como Assassinar um Poema - Acto 109

 
Este texto pseudo poético subversivo é perigoso
Escrito de palavras tiradas do antónimo da vida
Foi antes censurado e condenado ao ponto final
Muitos o mantiveram num vil cativeiro venenoso
Encostado às paredes bolorentas de cor perdida
Em chão húmido forrado a pedaços de pão e sal

O humano juiz e doutor de umas palavras fortes
Sensível ao argumento da defesa chorou de riso
Era áspera a convicção de proibir qualquer rima
Os letrados que o aplaudiam só queriam mortes
Tinta escorrida e uma mão castrante se preciso
Dar volta ao texto e olhá-lo de baixo para cima

O leitor de pernas e olhos trocados lia-o atónito
Tecia-lhe críticas no pasquim diário de domingo
Como se fosse algum catedrático jornalista sério
Um asno inteligente tal como o doutor incógnito
Lá pela rua, verão, a chuva caía pingo por pingo
E de quando em vez ia um soluçado impropério

Os carcereiros escroques lambiam-lhe uma letra
Agrilhoaram à vontade de ser livro vã vergonha
Deixando algumas páginas em branco sós e ocas
Matando liberdades que o pobre texto ali soletra
E lavando de lágrimas um verbo que se impunha
Nas mãos secas de juízes e outras gentes loucas


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 23/01/2024 07:51  Atualizado: 23/01/2024 07:51
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 Re: De Como Assassinar um Poema - Acto 109
Sentença de morte?

Cá no burgo não temos disso.

Um desabafo bem construído.
Gostei da ironia, da acidez, das rimas.

Só espero o mesmo de quem defende que o verso livre deve ficar preso também.

A rima é tão válida como qualquer aliteração, mas merece bastante trabalho no resto do corpo do texto.

Abraço e obrigado pela leitura