Árvore filha
Data 02/02/2024 23:13:57 | Tópico: Poemas
| "Oiço meu nome na boca do espanto Ao ritmo desespero, grego fóssil Tremes da dor vil que te molha enquanto E ensurdeço, esmoreço sem dó dócil
Adeus! Não quero. Adeus! Falta tanto... Deus? És tu? Quem és? Olha por mim vil Criatura ausente. Horas sem pranto O tempo parou. Nós. Dois. Sons a mil.
Teus olhos lavam meus dedos salgados Imóvel. Tu. O relógio daqui? Vou buscar. Vou levar. Vou, vou. Os dados... Os fados ou o destino. Desgraçados De nós, avariados. Ainda aí? E toco teus cabelos ondulados.
Plantei-me. Reguei-me e cresci florida Nadámos até à foz de cada rio Voámos pelas serras toda a vida E eu, árvore filha, sinto-te o frio. E eu dei a minha mão esquerda à mais nova A direita presa à que me seguiu Atrás de nós, a ti a alma que engloba A seiva sagrada que nos nutriu. Deus? Deixa-nos a paz, deixa sonhar Quem ousa crer no nascente, não pode Ver só a Lua de metade e sem par Não pode, não quer, consegue ou implode Deixaste um livro aberto em pausa, meu sangue. Minha voz. Vem fechá-lo, é teu."
Digital work: "Portrait of a heart", Christian Schloe
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