"Oiço meu nome na boca do espanto
Ao ritmo desespero, grego fóssil
Tremes da dor vil que te molha enquanto
E ensurdeço, esmoreço sem dó dócil
Adeus! Não quero. Adeus! Falta tanto...
Deus? És tu? Quem és? Olha por mim vil
Criatura ausente. Horas sem pranto
O tempo parou. Nós. Dois. Sons a mil.
Teus olhos lavam meus dedos salgados
Imóvel. Tu. O relógio daqui?
Vou buscar. Vou levar. Vou, vou. Os dados...
Os fados ou o destino. Desgraçados
De nós, avariados. Ainda aí?
E toco teus cabelos ondulados.
Plantei-me. Reguei-me e cresci florida
Nadámos até à foz de cada rio
Voámos pelas serras toda a vida
E eu, árvore filha, sinto-te o frio.
E eu dei a minha mão esquerda à mais nova
A direita presa à que me seguiu
Atrás de nós, a ti a alma que engloba
A seiva sagrada que nos nutriu.
Deus? Deixa-nos a paz, deixa sonhar
Quem ousa crer no nascente, não pode
Ver só a Lua de metade e sem par
Não pode, não quer, consegue ou implode
Deixaste um livro aberto em pausa, meu
sangue. Minha voz. Vem fechá-lo, é teu."
e sou do sítio das borboletas monarcas azuis
Digital work:
"Portrait of a heart", Christian Schloe