as cores Proibidas

Data 26/02/2024 06:25:49 | Tópico: Poemas

a areia picava as costas
e as mãos castanhas de a tocar,
mexer, rebolar, apertar
estavam já doentes,
da água de sal,
na língua dos dedos do sol da tarde,
quente e amarelo

os dois olhavam-se, deitados na cama de grãos que picava
não ventava, não ruidava, nada bulia
apenas as íris abertas de um lado
e do outro sorriam as mãos castanhas, doentes
dela tornaram doentes as dele,
e as mãos dele que acastanharam dela
o corpo nu
doente de quente do amarelo do sol

abraçaram-se, passando
de castanho a branco, amarelo, azul, verde, laranja de comer

depois um beijo longo e comprido, comprimido
por ele num corpo dela, dele, quase coberto, encoberto, a coberto dele
que assim lhe pesava a ela que espelhava ainda
as cores naquela pele dura e macia,
madura na zona da bacia

ela, deitada e agarrou-se aos cabelos dele para não cair
puxou-os a si usando a força do mar e do sal
das dores do grão
da sofreguidão de areia emergente

mas ele levantou-se
direito, à frente dela amarela e um ângulo reto
eixos de ordenadas e abcissas, x ou y? perfeito

assim, em silêncio
assim
as íris agora a descolar

e quando o sol quase
se despediu, ele
virou-se de costas e de frente
para o mar
e foi, sem olhar para trás, ela
levantou-se depois e de frente
às cores
estacou enquanto ele andou
andou
até apanhar o sol

e ser mais um raio aparente quente

que a mantinha doente




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