
Olhar Cego nº 04
Data 15/09/2024 10:23:03 | Tópico: Poemas
| [Este texto não pertence à Administração. Trata-se de uma colaboração de um Luso-Poeta, que participou de forma anónima no jogo "Olhar Cego". No final, revelaremos a sua identidade. Convidamos os utilizadores a pontuar e a comentar o texto à vontade, como fazem com qualquer outro.]
A desilusão
Era sempre no verão que a desilusão vinha mais cedo. Com dias intempestivos, vestidos de roupas desprezadas e desprezíveis. O ar pesava mais que a solidão perdida nas pedras da calçada. E soltavam-se aves que as casas tinham prendido desde há muito tempo. Éramos filhos das mesmas noites soltas, que esperavam vez para entrar em livros que ainda estavam por escrever. E o calor resolvia os problemas com soluções provisórias. As pessoas percebiam isso, e olhavam-se desconfiadas. A desilusão passeava entre elas, deixando marcas que se agarravam à pele sem que a dor fosse para ali chamada. O Verão ia passando, deslizando lentamente, e com isso regressavam as conversas possíveis. O desejo do convívio colorido e preenchido. Os dias ficavam mais pequenos, e a rua afastava as pessoas de si. Para mundos diversos, de cores naturais, outras artificiais, mas que sempre abriam caminho para o cinzentismo do Inverno interminável. Era uma história que se contava sempre da mesma forma, porque o mundo só tinha esta forma de falar de si próprio. Desassombrado, repetitivo, e a convidar as pessoas a histórias que nem elas próprias conheciam...
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