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Olhar Cego nº 04

 
[Este texto não pertence à Administração. Trata-se de uma colaboração de um Luso-Poeta, que participou de forma anónima no jogo "Olhar Cego". No final, revelaremos a sua identidade. Convidamos os utilizadores a pontuar e a comentar o texto à vontade, como fazem com qualquer outro.]

A desilusão

Era sempre no verão que a desilusão vinha mais cedo. Com dias intempestivos, vestidos de roupas desprezadas e desprezíveis. O ar pesava mais que a solidão perdida nas pedras da calçada. E soltavam-se aves que as casas tinham prendido desde há muito tempo. Éramos filhos das mesmas noites soltas, que esperavam vez para entrar em livros que ainda estavam por escrever.
E o calor resolvia os problemas com soluções provisórias. As pessoas percebiam isso, e olhavam-se desconfiadas. A desilusão passeava entre elas, deixando marcas que se agarravam à pele sem que a dor fosse para ali chamada.
O Verão ia passando, deslizando lentamente, e com isso regressavam as conversas possíveis. O desejo do convívio colorido e preenchido. Os dias ficavam mais pequenos, e a rua afastava as pessoas de si. Para mundos diversos, de cores naturais, outras artificiais, mas que sempre abriam caminho para o cinzentismo do Inverno interminável. Era uma história que se contava sempre da mesma forma, porque o mundo só tinha esta forma de falar de si próprio. Desassombrado, repetitivo, e a convidar as pessoas a histórias que nem elas próprias conheciam...

 
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Luso-Poemas
 
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Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 15/09/2024 10:41  Atualizado: 15/09/2024 10:41
Administrador
Usuário desde: 02/10/2021
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Mensagens: 557
 Re: Olhar Cego nº 04
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Uma perspetiva diferente do verão, que associamos à luz, ao calor, à alegria.

Isto porque o verão é apenas um motivo poético, que rapidamente identificamos com algo que se perdeu (a infância, associada à primavera, talvez?)

No fundo, andamos todos à procura de "histórias que não conhecemos", em "livros que ainda estão por escrever".

Enviado por Tópico
Beatrix
Publicado: 15/09/2024 14:07  Atualizado: 15/09/2024 14:07
Da casa!
Usuário desde: 23/05/2024
Localidade:
Mensagens: 264
 Re: Olhar Cego nº 04
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Texto muito interessante sobre a dualidade verão/ inverno, mas com desilusão. Não é habitual vê-la no verão. Ou um escudo a esconde como as aves, dentro de casa. Não se ouve também falar em noites soltas no inverno. O verão é libertino, campo aberto para tudo. Até para o que se sente e se tapa, porque é verão.
O inverno é cinzento, propício a histórias como esta que se contam a quem as ouve de boca aberta.

Parabéns!

Beatrix

Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 15/09/2024 16:42  Atualizado: 15/09/2024 16:42
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3317
 Re: Olhar Cego nº 04
É como o amor, um tema infindável. O lugar comum dos livros que ainda estavam por escrever tem igualmente um manancial de caminhos para explorar imenso. Não sei por que razão, mas sempre achei esta frase pouco poética (já a usei algumas vezes), manias!
E segue a história O Verão ia passando, mas não ao desejo de todos... eu por exemplo ainda espero saber quais as conversas possíveis, será que se perde o assunto com o passar do Verão? E esse pobre coitado Outono que não passa de uma cor quase cinzenta.
Não é uma prosa poética, é o pedaço de um prólogo.

Enviado por Tópico
Alpha
Publicado: 15/09/2024 18:53  Atualizado: 15/09/2024 18:53
Membro de honra
Usuário desde: 14/04/2015
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Mensagens: 2035
 Re: Olhar Cego nº 04
A desilusão

A desilusão é um espelho quebrado
Reflete um vazio que o sonho desfez
Um brilho apagado, no olhar já calado
Restando o silêncio onde a esperança se fez!

A desilusão não é apenas a perda de algo ou de alguém, mas a quebra de uma verdade que parecia inabalável. E pode vestir as mais variadas roupagens!

Alpha

Enviado por Tópico
MariaMorena
Publicado: 16/09/2024 17:22  Atualizado: 16/09/2024 17:22
Da casa!
Usuário desde: 07/06/2024
Localidade:
Mensagens: 341
 Re: Olhar Cego nº 04
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Parece que o verão é a roupa usada e a solidão daqueles que se juntam às pedras da calçada.
( Eu já me sentei na calçada e está aí meu diagnóstico)

Aqueles envolta querendo entrar para o seu livro.
( talvez mesmo sem nome alguns se reconheçam).

A roupa de verão seria uma solução provisória e esse sentimento a ser indefinido trazia uma desilusão que fugia do coração e se mostrava nos olhares.
( Isso é mesmo cruel, mas a estação está fora do nosso controle. Seria uma crítica às nossas escolhas, ahh…)

Parece ser o inverso o verão que seria alegria aqui o inverno é o que une.
( Respeitando o autor eu tenho o direito de fazer o meu, então tá)

Terminando de forma irônica e fazendo uma crítica, por mais que veja tudo se repetindo as pessoas não acordam.
( Com isso eu concordo)


Um poema difícil de ler mas foi uma delícia degustar aos pouquinhos, esse é do Alemtagus