de quando em vez … estremeço

Data 17/05/2008 21:17:35 | Tópico: Poemas -> Surrealistas

Como um vento de um Setembro fim de tarde
a roçagar
ao de leve a minha pele num arrepio quente de neve
as palavras
as tuas palavras, essas, vinham,
sementes embuçadas
harmoniosas
melódicas
pousar serenas nos meus ombros,
nos meus braços
nos meus seios
em contornos incontaminados de beijos
cobiçosos.

Num voar improvável de ave tímida
sentava-me na beira do poço
ladeado de avencas
e esperava.

Era Setembro, e logo, logo, o Outono
se declarava
Inverno.

Do fundo do poço agora
o espelho indiciado nalguns versos
numa labareda de chama eterna:
- fulge, flama, eclode,
quando, a tarde devolvida à noite,
define o palco do teatro da saudade
em rendilhados
em bailados de nenúfares e filigrana
e ninfas (outras) - divindades da água -,
com rostos de amêndoa e línguas assoreadas.

Sabes?
ainda aqui estou, sentada na aba do poço
de pés afincos à lama dos tempos;
de quando em vez … estremeço
e vejo uma estrela a lapidar estrelícias
em caules de margaridas …



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