
Odisseia corriqueira
Data 18/05/2025 14:00:04 | Tópico: Poemas -> Intervenção
| Entre almofadas e bolsos esquecidos, Navega o herói de chinelos rotos, Em busca da relíquia miúda, A chave, Que abre mais que a porta: Abre o dia. A fila serpenteia como dragão de silêncio, Bolsos vazios, sacolas sonhando peso. Frutas amadurecem Como decisões na alma, Escolher o tomate mais firme É também resistir à pressa. A colher mergulha no escuro do pó, Como um barqueiro tateando o futuro. O bule canta. E no vapor que dança sobre a xícara, Levanto âncoras para mais um dia. Corpos comprimidos em conchas de metal, O ônibus ruge, e partimos Não para Ítaca, Mas para o escritório da rua de baixo. Ali, entre fones de ouvido e olhares cansados, Há o épico de sobreviver calado. Os passos que me trouxeram São os mesmos que me levam de volta. Na porta, o trinco range um cântico antigo: "O herói voltou, Com sacolas e dores nas costas." Poema: Odair José, Poeta Cacerense www.odairpoetacacerense.blogspot.com
Instagram @poetacacerense
|
|