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Odisseia corriqueira

 
Entre almofadas e bolsos esquecidos,
Navega o herói de chinelos rotos,
Em busca da relíquia miúda,
A chave,
Que abre mais que a porta:
Abre o dia.

A fila serpenteia como dragão de silêncio,
Bolsos vazios, sacolas sonhando peso.
Frutas amadurecem
Como decisões na alma,
Escolher o tomate mais firme
É também resistir à pressa.

A colher mergulha no escuro do pó,
Como um barqueiro tateando o futuro.
O bule canta.
E no vapor que dança sobre a xícara,
Levanto âncoras para mais um dia.

Corpos comprimidos em conchas de metal,
O ônibus ruge, e partimos
Não para Ítaca,
Mas para o escritório da rua de baixo.
Ali, entre fones de ouvido e olhares cansados,
Há o épico de sobreviver calado.

Os passos que me trouxeram
São os mesmos que me levam de volta.
Na porta, o trinco range um cântico antigo:
"O herói voltou,
Com sacolas e dores nas costas."

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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Odairjsilva
 
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Enviado por Tópico
iLA
Publicado: 18/05/2025 16:21  Atualizado: 18/05/2025 16:21
Muito Participativo
Usuário desde: 25/11/2024
Localidade: Bahia
Mensagens: 91
 Re: Odisseia corriqueira
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"Os passos que me trouxeram
São os mesmos que me levam de volta.
Na porta, o trinco range um cântico antigo:
"O herói voltou,
Com sacolas e dores nas costas."

A realidade de milhares de milhões por esse mundo agora.


Gostei das cores que vi.

Enviado por Tópico
iLA
Publicado: 18/05/2025 16:22  Atualizado: 18/05/2025 16:22
Muito Participativo
Usuário desde: 25/11/2024
Localidade: Bahia
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 Re: Odisseia corriqueira
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Tenha uma feliz tarde