
Enquanto te inventava
Data 26/05/2025 22:13:00 | Tópico: Poemas
| Amei-te primeiro na ausência —
porque lá, onde não estavas,
pude pintar-te sem que protestasses.
Tinhas a delicadeza que eu precisava,
e nunca interrompias meus silêncios.
Criei-te perfeita
para não ter que lidar com teus limites
ou os meus.
Mas vieste.
Com tua pressa, tuas dores mal contidas,
tuas palavras tortas ao fim do dia.
Vieste e foste ficando,
sem promessas,
sem enredos líricos.
E eu, que sempre preferi
o brilho ao toque,
precisei aprender que o amor também pesa.
Teus gestos, por vezes, me confundem —
mas percebo que também me observas
sem saber se devo caber em teu sonho antigo
ou apenas na tua cama desarrumada.
E então compreendo:
não sou só eu que projeta.
Tu também me tens num esboço
rasurado pelas manhãs difíceis
e pelas ausências que não confessei.
É estranho amar-te sem controle,
sem sabedoria estética,
com a dúvida nua entre nós.
Mas é aqui —
justamente aqui —
que talvez o amor recomece.
Escolho-te.
Não como ideal,
mas como risco.
Não por aquilo que te falta,
mas por aquilo que tentas esconder
e mesmo assim me deixas ver.
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