Poemas : 

Enquanto te inventava

 
Amei-te primeiro na ausência —

porque lá, onde não estavas,

pude pintar-te sem que protestasses.

Tinhas a delicadeza que eu precisava,

e nunca interrompias meus silêncios.

Criei-te perfeita

para não ter que lidar com teus limites

ou os meus.

Mas vieste.

Com tua pressa, tuas dores mal contidas,

tuas palavras tortas ao fim do dia.

Vieste e foste ficando,

sem promessas,

sem enredos líricos.

E eu, que sempre preferi

o brilho ao toque,

precisei aprender que o amor também pesa.

Teus gestos, por vezes, me confundem —

mas percebo que também me observas

sem saber se devo caber em teu sonho antigo

ou apenas na tua cama desarrumada.

E então compreendo:

não sou só eu que projeta.

Tu também me tens num esboço

rasurado pelas manhãs difíceis

e pelas ausências que não confessei.

É estranho amar-te sem controle,

sem sabedoria estética,

com a dúvida nua entre nós.

Mas é aqui —

justamente aqui —

que talvez o amor recomece.

Escolho-te.

Não como ideal,

mas como risco.

Não por aquilo que te falta,

mas por aquilo que tentas esconder

e mesmo assim me deixas ver.

 
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Elisantos
 
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