A boca em si, nunca se diz, amargurada

Data 10/06/2025 13:54:01 | Tópico: Poemas











Amarga-me.
Não a boca.
Nem a colher que se guia só.
Para entregar mel.

Amarga-me o méleo do tempo.
Nas escadas que sobem
para outras descidas.

Amarga-me os grasnidos da gaivota.
Quando por sóis cegados.

Por despertar o facho da loucura,
ancorado nos dentes cerrados.

Os olhos amarguram-me
- ao redor da vida.

Sem me amargarem as partidas.
Nem a corrida ao choro.

Amarguro-me, em única amargura.
Amargurada pela abrasadura do medo,
na boca em labareda, de tão seca.

Amargam-me, os bafos na boca,
com sopros lavrando por dentro.

A boca, em si, nunca se diz amargurada.












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