Amarga-me.
Não a boca.
Nem a colher que se guia só.
Para entregar mel.
Amarga-me o méleo do tempo.
Nas escadas que sobem
para outras descidas.
Amarga-me os grasnidos da gaivota.
Quando por sóis cegados.
Por despertar o facho da loucura,
ancorado nos dentes cerrados.
Os olhos amarguram-me
- ao redor da vida.
Sem me amargarem as partidas.
Nem a corrida ao choro.
Amarguro-me, em única amargura.
Amargurada pela abrasadura do medo,
na boca em labareda, de tão seca.
Amargam-me, os bafos na boca,
com sopros lavrando por dentro.
A boca, em si, nunca se diz amargurada.
Zita Viegas