
" O Menino é o Pai do Homem"
Data 14/06/2025 22:03:55 | Tópico: Poemas
| Tanto tempo q'inda me lembro Quando se aproximava o estio Quando as nuvens no cio Indicavam o mês de setembro.
Findavam os meses de frio Daquelas rajadas de vento Agora era o encher de rios Mudança brusca do tempo.
Brilhava um sol amarelo O fundo do mundo, cinzento Senti derrubar o castelo Que eu sentia por dentro.
Lembro que eu chamava Marcelo Que eu previa o futuro Que eu desenhava nos muros Quando simples eu cantava Pelos becos escuros Em ruas repletas de valas.
E, quando, quedava a madrugada Apagadas as estrelas Eu ruminava na areia Deitado perto da praia.
O mar sussurrava segredos Que só eu podia ouvir, Histórias de navegantes perdidos, Daqueles amores falidos Descritos por Shakespeare,
E eu, menino com os olhos de festa, Cria em todos e em tudo, No vento que trazia promessas, Nas ondas que serviam escudos, No céu que se abria em tons de laranja Quando o sol nascia tímido, Rompendo a névoa da manhã.
Marcelo, o nome que ecoava Nas paredes da memória, Era eu, era outro, Era o menino que fui, Que se perdeu no tempo, Mas que ainda habita Nos cantos mais escuros Da minha alma.
E ali, deitado na areia, Sentia o mundo girar, Lento, pesado, Como se carregasse O peso de todas as lembranças, De todos os amores não vividos, De todas as palavras não ditas.
E o vento, sempre o vento, A cantarolar canções antigas, A lembrar-me que o tempo É um rio que não para, Que arrasta consigo Tudo o que fomos, Tudo o que sonhamos, Tudo o que um dia seremos.
E eu, menino, homem, Marcelo, quem quer que seja, Fico aqui, na beira do tempo, Olhando o horizonte, Esperando que o sol Me traga de volta Aquele dia frio, Aquele vento, Aquele rio, Aquele momento... Aquele menino.
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