Topografia do desvio

Data 16/06/2025 02:26:17 | Tópico: Poemas

Queimei os mapas,
    mas decorei os rios.
Sei onde a pedra afunda
    sem deixar redemoinho.
Deixei as cartas na mesa,
    como quem esquece a bússola
        do verso, guardiã do caminho.

Há uma arte que habita
    naquilo que não nos deram.
Um jeito de dizer “sim”
    e seguir com a alma acesa.
No instante que escorre,
    quando o destino hesita,
Sou o lugar onde o mundo
    se desvia de si mesmo,
        e encontra o corpo que me sonha
            com olhos de dentro.

Ninguém me prevê,
    às vezes, nem eu.
Ainda assim,
    não meço dores,
    não peço afetos.
Invento o verbo
        do meu rastro.

No silêncio que conheço
    das margens,
Crio universos.
    Não passo,
        Permaneço.


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