
pronto?
Data 24/06/2025 13:53:36 | Tópico: Poemas
| aproveito a luz da manhã para mais uma limpeza ao pó que contorna o retângulo no soalho deixado pela mala de viagem como limite a giz duma boneca a dançar momentos antes nas mãos da criança adivinhando a asfixia do seu abraço inocente
o mundo acabou de telefonar para vender a última oportunidade de um destino em promoção e comprei um cadeado partido para a mala que já partiu quantas vezes terei de estender a garantia de que a ausência pode ser uma presença que dentro doutra se vai sonhando?
quantas chaves serão precisas para franquear uma nudez presa no canto da alfândega? quando se ouvirá o altifalante apregoar os segredos vis da boca que perdeu a língua? em que instante se saberá que o regresso do proscrito ao lugar onde nunca esteve é o único modo de sobreviver?
lá fora há já quem me queira acordado para a vigília de futuras viagens como se os olhos abertos fossem prova de vida e a cegueira tivesse a marca do recluso julgado lágrima a lágrima enquanto o silêncio de um cão lhe lambe o rosto
cá dentro só me resta deixar que a nave sem rumo colida contra os retratos de sorrisos suspensos ao contrário sobre as capas dos livros cujo enredo já esqueci porque nunca soube ler ocupado que estava pelo medo e pela mudez com a flanela suja entre os dedos
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