
Outras digitais
Data 29/06/2025 14:57:39 | Tópico: Poemas
| Renato trabalhava na cidade E morava na roça onde comprava fiado na mercearia de Lúcio. Em uma dessas crises econômicas, Os que dão as cartas apertaram o cinto. Foram arrochos e mais arrochos. A chave de fenda do poder apertou como se quisesse tirar leite de pedra Para garantir o queijo dos que têm a bolsa nas mãos: Especuladores, grandes acionistas e outros “artistas”. Como sempre acontece, Quando a mão invisível cresce O desemprego estremece. A maré braba atingiu muita gente. Renato foi um dos derrubados por essa onda. Ele honrava os compromissos religiosamente E se orgulhava de ser um sujeito decente. Mas a maré braba demorou passar E ele começou a se afundar. Até que chegou o dia que ele foi à mercearia E a escuridão o arrebatou em plena luz do dia. Lúcio já estava sufocado com tantos fiados. Lúcio perdeu a linha, Arrodeado de clientes, bradou: Não vendo mais fiado a você, já me deve demais. O comum naquele meio era fazer esse comunicado em particular. Renato baixou a cabeça, procurou terra no chão e não encontrou. O homem mudou de cor, Dos olhos saíam faíscas. Cego como estava, Privado dos sentidos, Renato foi em casa, pegou o revólver, Voltou à mercearia e deixou órfão os três filhinhos de Lúcio. Foi o dedo do Renato que puxou o gatilho, Mas outros dedos estavam ali.
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