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Tags:  poesia social  
 
Renato trabalhava na cidade
E morava na roça onde comprava fiado na mercearia de Lúcio.
Em uma dessas crises econômicas,
Os que dão as cartas apertaram o cinto.
Foram arrochos e mais arrochos.
A chave de fenda do poder apertou como se quisesse tirar leite de pedra
Para garantir o queijo dos que têm a bolsa nas mãos:
Especuladores, grandes acionistas e outros “artistas”.
Como sempre acontece,
Quando a mão invisível cresce
O desemprego estremece.
A maré braba atingiu muita gente.
Renato foi um dos derrubados por essa onda.
Ele honrava os compromissos religiosamente
E se orgulhava de ser um sujeito decente.
Mas a maré braba demorou passar
E ele começou a se afundar.
Até que chegou o dia que ele foi à mercearia
E a escuridão o arrebatou em plena luz do dia.
Lúcio já estava sufocado com tantos fiados.
Lúcio perdeu a linha,
Arrodeado de clientes, bradou:
Não vendo mais fiado a você, já me deve demais.
O comum naquele meio era fazer esse comunicado em particular.
Renato baixou a cabeça, procurou terra no chão e não encontrou.
O homem mudou de cor,
Dos olhos saíam faíscas.
Cego como estava,
Privado dos sentidos,
Renato foi em casa, pegou o revólver,
Voltou à mercearia e deixou órfão os três filhinhos de Lúcio.
Foi o dedo do Renato que puxou o gatilho,
Mas outros dedos estavam ali.

 
Autor
magnoerreiraal
 
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