
(Sem título)
Data 05/07/2025 23:22:24 | Tópico: Poemas
| Conheci uma mulher chamada Matilde. Por vezes, chovia e, por vezes, ventava entre as telhas redondas da casa. Punha a panela ao fogão num gesto mudo, rodava o botão do gás e acendia o lume, hesitando um segundo, a rasar um gesto suicida. Abria a janela à hora do sol, fechava à hora das estrelas. Sentava-se no banco da cozinha com vista para a rua e olhava para lado algum. Não se interessava por política, não se interessava por amor. Não lhe interessavam a fome e a doença. Não parecia gostar de animais. Também não os odiava. Um gato preto costumava rondar a casa. Tinha plantas às quais era indiferente. Talvez limpasse a casa em dias improváveis. Através de um portão distante, um cão ladrava sempre. Cicatrizes secas enfeitavam os braços. Conheci uma mulher chamada Matilde e por pouco nem o nome ficou.
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