Conheci uma mulher chamada
Matilde. Por vezes, chovia e, por vezes, ventava
entre as telhas redondas da casa.
Punha a panela ao fogão num gesto mudo, rodava
o botão do gás e acendia o lume, hesitando
um segundo, a rasar um gesto suicida. Abria a janela à hora do sol, fechava
à hora das estrelas.
Sentava-se no banco da cozinha com vista para a rua
e olhava para lado algum. Não se interessava por política, não
se interessava por amor. Não lhe
interessavam a fome e a doença. Não
parecia gostar de animais. Também não os odiava. Um
gato preto costumava rondar a casa.
Tinha plantas às quais era indiferente. Talvez limpasse
a casa em dias improváveis.
Através de um portão distante, um cão ladrava
sempre. Cicatrizes secas enfeitavam os braços.
Conheci uma mulher chamada Matilde e por pouco
nem o nome ficou.