sem pudor, amado ...

Data 19/05/2008 11:46:34 | Tópico: Poemas -> Amor

sem pudor
nem mácula
como água clara e límpida
que beija as margens magoadas de um ribeiro

gota a gota
boca a boca
vasos comunicantes
em cascatas clorofilinas de saliva
em hemofilias sanguíneas

as tuas mãos, audazes, envolver-me-ão
a cada final de tarde num terno véu
de sal
de seiva e liberdade


greda
forma difusa
ainda

obra imperfeita e inacabada
em progressão
no dilacerar d’horizontes em que se escorrem líquidos
lágrimas
ansiedades
mágoas
[e saudades]
sucumbiremos vivos em estradas rectilíneas de verdade.

sem pudor
nem mácula
abrir-se-ão em nós portais de Neptuno e ogivas de catedrais
e os nossos corpos até então, ímpios, regurgitarão
do sepulcro do tempo antigo, doutrinados
no fulgor sublimado de chama Olímpica

sem pudor, amado …



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