
Bordas de bordados
Data 14/07/2025 22:37:18 | Tópico: Poemas -> Saudade
| Senta-te na beirada da tarde... Aqui ou ali. Pega uma agulha de brisa e linha d' ouro gasto.
Vamos bordar as margens do que vejo; as folhas correm apressadas no vilarejo.
Aquela figueira esquecida no canto esquerdo da rua, dizem que ela nasceu para sombrear um desejo. Nela a meninada sobe como quem escala o tempo e o tempo colhe os figos para ficar com mãos sujas de infância.
Lá adiante, a pequena vendinha vende balas que já não existem nas grandes cidades. O dono é seu Avelino, sabes que ele sabe o nome de cada comprador de pão e conversa fiada? E ainda fala com os retratos dos que já se foram como se ainda comprassem fiado.
Sei que olhas reto, mas na rua mais escondida, há uma casa de madeira azul descascada. Lá vive uma senhora que fala com os gatos e estrelas; dizem que ela costura sonhos nos panos de prato e quem ganha um, sonha melhor.
Na última ladeira, aquela que leva ao campo onde o céu se deita, há um banco de madeira sob um poste que ilumina sem eletricidade. Ali os namorados do vilarejo deixam promessas amarradas nos galhos baixos: fitas, bilhetes, pedaços de roupa... Como se o amor precisasse ser balançado pelo vento...
Agora, um suspiro e um ponto de saudade... que o tempo nunca arremata.
|
|