
inventário do instante
Data 19/07/2025 17:46:06 | Tópico: Poemas
| quando criança puseram-me nas mãos um triângulo de areia daquela que mede os minutos sob a forma de queda a mim que amava as aves migratórias que as estações atraem para outro céu
o seu voo tinha o som dos ramos nos vitrais dos lugares onde deus se cala onde as palavras são de papel e vinho santo onde aprendi a escutar os meus pulsos e a apagar as velas com a alma
cedo comecei a inquirir os montes e os ribeiros como rómulo que dizia mãe já é tão tarde e ela não sabia como o consolar como acontece com todas as mães que pressentem o aroma do leite prestes a azedar e desprezam a língua dos hinos
aprendi a fugir pelos pomares na madrugada antes das colheitas à espera dos milhafres que trariam as cartas que os pombos não sabiam entregar e deixava-me arranhar pelos tojos para guardar pérolas de pus que me ensinavam a beleza da dor que permanece
e agora que conquistei a ignorância das heras e dos bichos e que cheguei à terra dos que sabem contar o percurso de um ponteiro ou a métrica de um verso importavam-se muito se estivéssemos um bocadinho em silêncio?
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