Nome nenhum pra isso

Data 20/07/2025 03:14:17 | Tópico: Poemas

Acordei com gosto de ferro.
Nenhuma marca à vista.
Mas havia um silêncio
entalado no céu da boca
e doía quando pensava.

Me vesti com o que restou do sono,
duas palavras sem dono,
um sussurro que mordia de leve.

Andei pela casa
como quem atravessa um campo minado
com os olhos vendados por dentro.

Havia um fio de luz atravessando o corredor.
Ele tremia, como se de algo soubesse, mas não dizia.
Segui por ele
até não saber mais o que era caminho
e o que era ar preso entre frestas de vidro.

Me disseram que era dia.
Não acreditei.
De onde eu vinha, o tempo
era um bicho sem espinha.

Me engasguei com os minutos.
O chão respirava devagar.
E eu fiquei ali,
de pé,
sem peso,
feito coisa que ainda não decidiu se vai cair.

A pele seguiu mentindo.


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