
Alaúde - Por Chris Fonte Katz - Donzela do Gelo
Data 07/08/2025 14:04:58 | Tópico: Poemas
| Não é por água, mas por um fio invisível que pescadores antigos lançam suas redes
um, depois outro, e mais outro
cada um tentando capturar o impossível, cada um tentando domar o que nunca pertenceu a ninguém.
Mas o oceano não se rende. Ele permanece, deliberadamente cadavérico,
um corpo vasto que nem sequer chora seu próprio fim,
nem se curva à prece dos homens.
Nosso último lusco-fusco, aquela tênue luz que escapa entre as frestas do tempo,
é uma chuva sem beijo não toca, não afaga, não promete renascimento.
É trovoada que rompe o céu,
plantação que murcha sob o olhar frio daquela mulher desfeita, invasiva,
que nos observa, sombra densa entre as árvores.
Esse pranto, esse pranto corpóreo que se derrama e queima,
não me salva, não nos salva
nenhum oásis surge no deserto de nossas esperas,
nenhuma miragem se torna verdade.
Tudo isto é um erro natural, talvez,
uma sina inscrita nas estrelas e no sal que banha nossos corpos cansados.
Estamos condenados ao canto da sereia,
à melodia que embala e destrói,
ao som longínquo e desesperado de um alaúde,
que chora pelas almas perdidas na maré,
que chama, sem prometer retorno.
Somos navegantes de um mar sem porto,
carregando no peito a dor antiga dos náufragos,
aprendendo a dançar com a sombra das ondas,
aceitando que o que nos afoga também nos ensina a respirar fundo.
E ainda assim, mesmo condenados, seguimos
lançando redes invisíveis,
cantando para o céu que não nos ouve,
esperando um sopro que nos faça flutuar,
mesmo que apenas por um instante,
antes que o silêncio nos envolva de vez no som do alaúde.
. Alaúde - Por Chris Fonte Katz - Donzela do Gelo
Da minha inspiração;
Este poema-texto, fala sobre estar à deriva, entre redes invisíveis, prantos que não salvam e o canto hipnótico daquilo que nunca volta.
Das nossas humanidades, das cheganças, das partidas, do dilema do viver...
|
|