Poemas : 

Alaúde - Por Chris Fonte Katz - Donzela do Gelo

 

Não é por água,
mas por um fio invisível
que pescadores antigos lançam suas redes

um,
depois outro,
e mais outro

cada um tentando capturar o impossível,
cada um tentando domar
o que nunca pertenceu a ninguém.

Mas o oceano não se rende.
Ele permanece,
deliberadamente cadavérico,

um corpo vasto
que nem sequer chora
seu próprio fim,

nem se curva
à prece dos homens.

Nosso último lusco-fusco,
aquela tênue luz
que escapa entre as frestas do tempo,

é uma chuva sem beijo
não toca,
não afaga,
não promete renascimento.

É trovoada
que rompe o céu,

plantação que murcha
sob o olhar frio
daquela mulher desfeita,
invasiva,

que nos observa,
sombra densa
entre as árvores.

Esse pranto,
esse pranto corpóreo
que se derrama e queima,

não me salva,
não nos salva

nenhum oásis surge
no deserto de nossas esperas,

nenhuma miragem
se torna verdade.

Tudo isto é um erro
natural, talvez,

uma sina inscrita
nas estrelas
e no sal
que banha nossos corpos cansados.

Estamos condenados
ao canto da sereia,

à melodia que embala e destrói,

ao som longínquo
e desesperado
de um alaúde,

que chora
pelas almas perdidas
na maré,

que chama,
sem prometer retorno.

Somos navegantes
de um mar sem porto,

carregando no peito
a dor antiga
dos náufragos,

aprendendo a dançar
com a sombra das ondas,

aceitando
que o que nos afoga
também nos ensina
a respirar fundo.

E ainda assim,
mesmo condenados,
seguimos

lançando redes invisíveis,

cantando para o céu
que não nos ouve,

esperando um sopro
que nos faça flutuar,

mesmo que apenas
por um instante,

antes que o silêncio
nos envolva de vez no som do alaúde.


.
Alaúde - Por Chris Fonte Katz - Donzela do Gelo


Da minha inspiração;

Este poema-texto, fala sobre estar à deriva,
entre redes invisíveis,
prantos que não salvam
e o canto hipnótico daquilo que nunca volta.

Das nossas humanidades, das cheganças, das partidas, do dilema do viver...




Sou Mundos!


Chris

 
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Katz
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