Não é por água,
mas por um fio invisível
que pescadores antigos lançam suas redes
um,
depois outro,
e mais outro
cada um tentando capturar o impossível,
cada um tentando domar
o que nunca pertenceu a ninguém.
Mas o oceano não se rende.
Ele permanece,
deliberadamente cadavérico,
um corpo vasto
que nem sequer chora
seu próprio fim,
nem se curva
à prece dos homens.
Nosso último lusco-fusco,
aquela tênue luz
que escapa entre as frestas do tempo,
é uma chuva sem beijo
não toca,
não afaga,
não promete renascimento.
É trovoada
que rompe o céu,
plantação que murcha
sob o olhar frio
daquela mulher desfeita,
invasiva,
que nos observa,
sombra densa
entre as árvores.
Esse pranto,
esse pranto corpóreo
que se derrama e queima,
não me salva,
não nos salva
nenhum oásis surge
no deserto de nossas esperas,
nenhuma miragem
se torna verdade.
Tudo isto é um erro
natural, talvez,
uma sina inscrita
nas estrelas
e no sal
que banha nossos corpos cansados.
Estamos condenados
ao canto da sereia,
à melodia que embala e destrói,
ao som longínquo
e desesperado
de um alaúde,
que chora
pelas almas perdidas
na maré,
que chama,
sem prometer retorno.
Somos navegantes
de um mar sem porto,
carregando no peito
a dor antiga
dos náufragos,
aprendendo a dançar
com a sombra das ondas,
aceitando
que o que nos afoga
também nos ensina
a respirar fundo.
E ainda assim,
mesmo condenados,
seguimos
lançando redes invisíveis,
cantando para o céu
que não nos ouve,
esperando um sopro
que nos faça flutuar,
mesmo que apenas
por um instante,
antes que o silêncio
nos envolva de vez no som do alaúde.
.
Alaúde - Por Chris Fonte Katz - Donzela do Gelo
Da minha inspiração;
Este poema-texto, fala sobre estar à deriva,
entre redes invisíveis,
prantos que não salvam
e o canto hipnótico daquilo que nunca volta.
Das nossas humanidades, das cheganças, das partidas, do dilema do viver...
Sou Mundos!
Chris