
Carta ao silêncio
Data 28/08/2025 16:26:11 | Tópico: Poemas
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Fiquei a olhar o lugar onde estavas como quem espera que o vento traga o teu nome. A luz atravessava os ramos da figueira e fazia do teu rasto um brilho breve.
Os que partiram vieram sentar-se comigo com os olhos cheios de histórias e gargalhadas antigas. Trouxeram o cheiro do pão quente e o rumor das tardes em que éramos muitos.
As mulheres que nos embalaram ainda cantam baixinho no fundo da memória. Os homens [imóveis] guardam o tempo como quem guarda sementes no bolso.
No último dia em que te vi a chuva caía como quem não quer molhar. O campo estava meio seco meio lembrança. Não fui até à janela. Fiquei a escrever-te com os olhos fechados.
Guardo as folhas no fundo da gaveta junto às coisas que não se dizem. Se um dia as leres é porque voltaste ao lugar onde o silêncio sabe bem.
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