Fiquei a olhar o lugar onde estavas
como quem espera que o vento traga o teu nome.
A luz atravessava os ramos da figueira
e fazia do teu rasto um brilho breve.
Os que partiram vieram sentar-se comigo
com os olhos cheios de histórias e gargalhadas antigas.
Trouxeram o cheiro do pão quente
e o rumor das tardes em que éramos muitos.
As mulheres que nos embalaram
ainda cantam baixinho no fundo da memória.
Os homens [imóveis] guardam o tempo
como quem guarda sementes no bolso.
No último dia em que te vi
a chuva caía como quem não quer molhar.
O campo estava meio seco meio lembrança.
Não fui até à janela.
Fiquei a escrever-te com os olhos fechados.
Guardo as folhas no fundo da gaveta
junto às coisas que não se dizem.
Se um dia as leres
é porque voltaste ao lugar onde o silêncio sabe bem.