
guerra
Data 01/09/2025 21:21:05 | Tópico: Poemas
| o bebé morreu depois. antes disso, a irmã de nove anos, cabeça estilhaçada, o sangue a escorrer em golfadas, os braços em cruz, inúteis, deitada no frio da loiça partida da casa de banho.
fez anos em maio. cantaram-lhe os parabéns. corou.
o bebé não tinha celebrado nenhum aniversário.
a mãe, de vazios olhos abertos, arrastada pelo sopro da explosão, desfez-se em fragmentos pesados, espalhada pelo quarto.
inexplicavelmente, a cama ficou intacta.
foi no terceiro esquerdo, num prédio antigo. um trovão breve, seco, um corte no ar, um assobio violento.
o silêncio e o sangue colaram-se às paredes.
a guerra ainda não tinha chegado à cidade. chegou naquele instante.
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