o bebé morreu depois.
antes disso, a irmã de nove anos,
cabeça estilhaçada,
o sangue a escorrer em golfadas,
os braços em cruz, inúteis,
deitada no frio da loiça partida
da casa de banho.
fez anos em maio.
cantaram-lhe os parabéns.
corou.
o bebé não tinha celebrado nenhum aniversário.
a mãe, de vazios olhos abertos,
arrastada pelo sopro da explosão,
desfez-se em fragmentos pesados,
espalhada pelo quarto.
inexplicavelmente, a cama
ficou intacta.
foi no terceiro esquerdo,
num prédio antigo.
um trovão breve, seco,
um corte no ar,
um assobio violento.
o silêncio e o sangue colaram-se às paredes.
a guerra ainda não tinha chegado à cidade.
chegou naquele instante.